BRICS – The World of Traditions: trocas culturais e científicas, promovendo valores de paz entre os países do grupo

Crédito: Alessandra S. Brites/Revista Intertelas.

O fim da Guerra Fria e sua bipolaridade de poder entre Estados Unidos e União Soviética deu espaço, segundo muitos teóricos das relações internacionais formados em universidades de elite norte-americanas, a um mundo unipolar, onde o centro de comando permanecia em Washington. Era o “Fim da História”, como tentou profetizar o estadunidense de origem japonesa Francis Fukuyama. Desta forma, a partir de suas regras um sistema político e econômico foi reconstruído. Contudo, logo este cenário começou a entrar em crise, em grande parte pela desigualdade política, econômica e social que a proposta capitalista neoliberal de civilização incitou.

Ao mesmo tempo, a volta de China e posteriormente Rússia como atores assertivos e pró-ativos no tabuleiro político global, juntamente com a ascensão de Índia, Brasil e África do Sul também como possíveis pólos de poder regionais contribuiu para o fim da Era Unipolar norte-americana de forma rápida historicamente falando. Em grande parte, a reconfiguração da estrutura de poder internacional busca uma ordem mundial mais justa que leve em conta a representação de mais pólos de poder, não apenas os localizados na Europa Ocidental, América do Norte e aliados.

Crédito: Amanda Lacerda e Sara Hummel.

Atualmente, os projetos de construção de rotas comerciais, promovendo infraestrutura e interligando países e regiões como previsto na União Econômica Euroasiática e, especialmente, a Iniciativa de Cinturão e Rota trazem possibilidades futuras que vão além das cúpulas de assuntos políticos e econômicos. Estas também resultam em questões de suma importância como a comunicação, cultura e o mútuo conhecimento de países  com história e formação política, social e costumes tão distintos como os dos membros do grupo BRICS.

É com esta visão, que almeja a construção futura de trocas e produção de ciência, cultura e conhecimento mútuo, incentivando um modelo de valores baseado na compreensão das diferenças e valorização das semelhanças na construção de um mundo mais pacífico, que a “BRICS – The World of Traditions” (BRICS: o Mundo das Tradições), uma organização pública regional com sede em Moscou, foi criada. A instituição lançou como parte de suas atividades o evento: expedição cultural e pacifista “Os Grandes Professores do BRICS” que promove encontros entre universitários, estudantes, pesquisadores e professores, a cada edição das cúpulas dos BRICS, completando um ciclo em 2019 com o Brasil presidindo o grupo, país que faltava para a visita da iniciativa.

A organização pautou este projeto com a escolha de um pensador proveniente de cada nação dos BRICS como representante de uma visão pacífica de mundo, cultural e histórica de seus paises. Confúcio, Leo Tolstoi, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e Barão de Rio Branco, segundo a BRICS – Mundo das Tradições tornaram-se bastiões de “instrução e orientação de valores morais” futuros.

Crédito: http://www.bricsmt.ru

O encontro ocorreu no último dia 17 de outubro, no Salão Pedro Calmon, Palácio Universitário, Campus da Praia Vermelha – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na capital carioca. Segundo informado pela própria organização os parceiros e participantes foram Boris Martinov, professor, chefe do Departamento de Relações Internacionais e Política Externa da Rússia MGIMO (Universidade), o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, o Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no Rio de Janeiro (Museu Itamaraty), a Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro – compatriotas russos que vivem no país, jovens brasileiros, pesquisadores e estudantes.

O projeto é implementado com a assistência do Ministério da Cultura da Federação Russa, do Departamento de Planejamento de Política Externa e do Departamento Latino-Americano do Ministério de Relações Exteriores da Federação Russa, Rossotrudnichestvo, Embaixada do Brasil na Rússia, Embaixada da Rússia no Brasil, Consulado Geral da Rússia no Rio de Janeiro e Instituto de América Latina da Academia Russa de Ciências. O projeto teve o apoio financeiro da empresa ASCON.

Crédito: Artem Fomin/Consulado Geral da Federação da Rússia no Rio de Janeiro.

De acordo com a assessoria de imprensa da organização: “os principais objetivos de todas as expedições são: estudar as tradições, o patrimônio cultural e histórico do país participante, a vida e o trabalho dos cinco grandes mantenedores da paz, popularizar suas idéias e ensinamentos em todos os países do BRICS. A expedição também participou nesta oportunidade dos festejos do 190º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a Rússia e o Brasil, o 150º aniversário do nascimento do filósofo e pensador indiano Mahatma Gandhi, e o estudo da vida e obra do diplomata-pacificador brasileiro Barão de Rio Branco“.

Assim, neste dia houve a cerimônia de plantação da árvore dos professores do BRICS no campus da Praia Vermelha. Em entrevista a Sputnik Brasil, a presidente da BRICS: The World of Traditions Liudmila Sekatcheva afirmou: “Essa árvore representa a unificação dos povos e um escudo contra a violência e as adversidades. Esses cinco humanistas e pensadores trazem um exemplo de paz“. Posteriormente a presidente junto com Amauri Fernandes, diretor de Relações Internacionais da UFRJ e Leonardo Valente, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ recepcionaram os presentes.

Diferentes culturas, tradições, religiões e pessoas só podem coexistir se houver harmonia entre os povos. Os valores éticos e a união são uma herança dos cinco grandes professores e humanistas dos BRICS que apresentamos neste projeto. Estamos felizes de estar no Rio. Esperamos que esta iniciativa una e atraia cada vez mais brasileiros“, afirmou Sekatcheva.

O BRICS visa promover outras formas de liderança mundial. Trata-se também de um sintoma de mudança na estrutura de poder sistêmica mundial, provendo uma nova composição de forças. Neste grupo de países há uma riqueza única da diversidade de governança“, salientou Valente. Estiveram ainda presentes na ocasião o chefe do Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no Rio de Janeiro (EREPIO), embaixador Eduardo Prisco Paraiso Ramos, o cônsul geral russo no Rio de Janeiro Vladimir Tokmakov, o cônsul honorário da Índia no Rio de Janeiro, Leonardo Ananda Gomez, o Cônsul-geral da Republica Popular da China Li Yang e outros representantes de missões diplomáticas dos demais países do BRICS no Brasil.

Posteriormente uma palestra sobre educação na Rússia, ministrada por Sergei Shumilov, representante da Agência Rossotrúdnichestvo no Brasil expôs aos estudantes informações e oportunidades para estudar naquele país. Em entrevista para o Sputnik, Shumilov afirmou: “o bloco deixou de ser apenas um fórum político e financeiro para se tornar um espaço de trocas culturais. Agora o panorama é completamente diferente. Durante dez anos, além da entrada da África do Sul, foram criadas varias iniciativas, comissões e grupos de trabalho. Na presidência rotativa do Brasil, os BRICS realizaram muitos eventos importantes na área cultural, como festivais de cinema, que são excelentes para os países se conhecerem melhor, e educação“.

Ainda segundo ele o governo russo oferece bolsas de estudo, tanto para mestrado como bacharelado. “No ano passado foram 47, agora pretendemos aumentar. A procura chega a quase 4 mil pessoas. As áreas mais procuradas pelos brasileiros são medicina, relações internacionais, economia, matemática e tecnologia da informação. Temos projetos muito interessantes de soft power e integração“.

Serguei Shumilov, da agência Rossotrudnichestvo, durante apresentação no evento The Great Teachers of BRICS. Crédito: Denis Kuck/Sputnik Brasil.

Dias antes deste evento foi realizado em Niterói Rio de Janeiro o 4° Festival de Cinema dos BRICS que reuniu produções e atividades voltadas para o cinema dos membros do grupo. O evento foi realizado pelo Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (UFF), com a cooperação da prefeitura da cidade de Niterói, apoio institucional da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e patrocínio da Secretaria Especial de Cultura, do Ministério da Cidadania. Nesta edição, focou-se bastante no papel que a universidade pública tem na formação de profissionais do setor audiovisual, incentivando o encontro de estudantes dos cinco países, assim como de profissionais das mais diversas áreas do cinema.

A expedição teve início no Palácio Itamaraty ainda em 14 de outubro, onde realizou uma reunião com o  embaixador Eduardo Prisco Paraíso Ramos e visitou o Museu de História da Diplomacia do Brasil em homenagem a Barão do Rio Branco e uma exposição temporária dedicada às relações diplomáticas russo-brasileiras. O livro “O Chanceler Dourado” sobre o diplomata e de autoria do professor e especialista em assuntos da América Latina Boris Martinov foi entregue às bibliotecas do Museu de Itamaraty e da UFRJ.

Os alunos que participaram do evento. Crédito: Amanda Lacerda e Sara Hummel.

Ainda entre as atividades realizadas durante o dia 17 de outubro uma ampla variedade de assuntos estratégicos foram debatidas entre professores, especialistas e alunos: “Guerra e paz, Tolstoi, relações internacionais da Rússia e sociedade russa no século XIX”; “Os BRICS: desafios brasileiros e russos (energia, comércio, meio ambiente, multiculturalismo)”; “A Política Externa da Índia: da independência à nuclearização”; “A China no Conselho de Segurança”; “Guerra, paz e pós-conflito na Colômbia” e “Além das falhas comuns dos mercados e da governança de sistemas econômicos complexos”.

Da esquerda para a direita: o bacharel em Direito Mauro Filgueiras, o professor e doutor Alexander Zhebit, a professora e doutora Elitza Bachvarova e o graduando em Relações Internacionais Wesley Martins. Crédito: Amanda Lacerda e Sara Hummel.

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Segundo informa a assessoria da BRICS: The World of Traditions, a publicação eletrônica russa The International Affairs frisou a importância que tal iniciativa tem para os países membros e em especial acena novos objetivos de organizações não governamentais e das próprias instituições vinculadas ao governo russo: “tornou-se um importante evento cultural e educacional,  demonstrando aos seus povos que a Rússia busca não apenas desenvolver relações no nível político, mas também cultural, social, fortalecer unidade, amizade, confiança e harmonia entre as cinco nações“.

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por Anders Noren

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