Imperialismo e colonização: a representação das relações intrínsecas e dúbias entre as elites japonesas e coreanas através do cinema

Song Kang Ho vive o capitão da polícia coreana Lee Jung Chool, que tem um histórico de entregar coreanos combatentes à ocupação, em troca de uma posição favorável com os japoneses em “A Era da Escuridão” (2016), de Jee Woon Kim. Crédito: divulgação.

O processo de Globalização capitalista promoveu transformações profundas no cenário internacional, resultando neste início de século XXI na chamada interdependência complexa, termo estabelecido por Keohane e Joseph. S. Nye, dois teóricos da Relações Internacionais que influenciaram a forma de pensar de muitos agentes políticos e econômicos pelo mundo. Em outras palavras, significa que as economias nacionais acabaram criando relações de dependência, sem necessariamente deixarem de competir umas com as outras.

Neste contexto internacional, o uso real do poder militar torna-se menos viável, estendendo a competição entre os países para outras áreas como a econômica e a cultural. Atualmente, a Ásia reemerge como um polo econômico, político ecultural alternativo a concorrer com o ocidente. É neste cenário que novas contendas como a atual “guerra comercial” entre China e Estados Unidos vem sendo estabelecidas, assim como problemas antigos e específicos daquela região a exemplo das relações entre Coreia do Sul e Japão que frequentemente passam por mais um momento de grande tensão que se reflete no campo comercial.

Em 2019 até o ano passado, outra disputa entre Tóquio e Seul foi desencadeada após uma decisão judicial na Coreia, que estabeleceu às empresas japonesas pagar indenizações às vítimas de trabalhos forçados sul-coreanas, durante o período colonial japonês sobre aquele país. A resposta dos japoneses foi retirar o status de parceiro comercial especial da Coreia do Sul. Já a reação dos sul-coreanos venho na mesma linha. Ao levar em conta que tanto Coreia quanto Japão são parceiros importantes do Brasil, tentar entender como estes processos históricos impactam estes países e suas relações atuais faz-se necessário.

Em um sistema transnacional onde produtos, serviços e mercadorias circulam livremente, os governos nacionais passaram a incluir em seus planos estratégicos: a diplomacia cultural, o conceito de Soft Power e as trocas culturais como parte de iniciativas que visam auferir vantagens políticas, mas principalmente econômicas no exterior. O Soft Power, conceito também definido por Joseph Nye, é a capacidade de um Estado, ou corpo político, de influenciar o comportamento ou interesses de outros países, sem o uso da força ou da coerção.

Crédito: reprodução da internet.

Assim, o presente texto busca analisar como a colonização japonesa é retratada nas produções cinematográficas sul-coreanas. Especificamente em três filmes: “My Way”
(2011), de Je Kyu Kang, “Assassinato” (2015), de Choi Dong Hoon e “A Era da Escuridão” (2016), de Jee Woon Kim. Diferentemente de épocas e produções anteriores, estes três filmes abordam a questão colonial e os movimentos de resistência de um ponto vista mais complexo e crítico do que meramente uma abordagem contrária ao Japão. A questão colonial acaba sendo desenvolvida de forma a questionar a visão padronizada de explorador e explorado, em especial ao abordar o papel da própria elite coreana, que, ao menos parte dela, foi bastante condescendente com os japoneses e com o sistema imperialista que o país foi submetido.

Da mesma forma, a relação estabelecida entre cidadãos coreanos e japoneses também assume níveis mais complexos que vai além do claro processo de exploração e influência que tanto o colonizado quanto o colonizador exercem um sob o outro. Deste cenário é possível promover um debate mais amplo em que o contexto do sistema político internacional, baseado nos moldes capitalistas, é o real indutor desta relação de exploração entre os países e as pessoas. E em um cenário de interdependência global, a única saída para que todos possam sobreviver e coexistir é através da ousada atitude de colaboração tanto de coreanos e japoneses na contraposição de suas próprias elites que os exploram.

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A estrutura de poder mundial segundo pensamento de algumas escolas 

Para entender melhor este contexto que foi proposto anteriormente é necessário compreender um pouco sobre as vertentes de pensamento que guiam as diferentes visões que se tem acesso até o momento sobre a estrutura de poder existente no cenário mundial. O estudo das relações de poder entre os Estados nacionais é o foco central da pesquisa dos chamados internacionalistas.

Esta área, cuja produção teórica e de conhecimento encontra-se em grande parte no eixo Estados Unidos e Europa Ocidental, estabelece que o cenário mundial apresenta uma estrutura caótica, sem estrutura governamental hierárquica, contrapondo-se a ordem provida pela existência do Estado no âmbito nacional. Ao levar em conta este contexto pode-se pensar em duas principais escolas de pensamento das relações internacionais: os realistas e os idealistas/liberais.

Os que aderem ao realismo, em especial às correntes teóricas mais clássicas, acreditam possuir um caráter mais objetivo, empírico e pragmático do que os integrantes de outras escolas. Para eles, o Estado é o ator principal das relações internacionais e sempre atua servindo ao interesse nacional, o que implica basicamente no desejo de sobreviver dentro de um sistema internacional caótico através da acumulação e manutenção de poder. Já o chamado idealismo/liberalismo contempla os teóricos herdeiros do iluminismo.

Um dos conceitos principais que estabeleceram foi o da interdependência complexa. Ou seja, em um mundo integrado economicamente, decisões individualistas podem afetar mesmo Estados distantes, a despeito de seus interesses. Assim, os países tendem a cooperar, visando evitar situações desastrosas para a economia. Saindo de uma perspectiva puramente capitalista e do campo teórico internacionalista formulado pelo ocidente e adentrando em uma linha sugerida pelo pensamento socialista, em especial baseado nos preceitos marxistas/leninistas, Vladimir Lênin, em sua publicação datada de abril de 1917 “Imperialismo: fase superior do capitalismo”, salienta que o capital financeiro tem a função de gerar lucros no colonialismo imperial.

Crédito: Editora Expressão Popular.

Trata-se de uma fase final do capitalismo de desenvolvimento para garantir maiores lucros (LENIN,1917). Em outras palavras, ao analisar o sistema internacional, cujos pilares são o modelo político e econômico capitalista, Lenin conclui que após esgotar a acumulação de capital dentro do espaço nacional, faz-se necessário, no intuito de continuar a promover o ciclo de acumulação, buscar em outras nações oportunidades que mantenham este mecanismo, o âmago do sistema em funcionamento.

As associações de monopolistas capitalistas – cartéis, sindicatos, trusts partilham entre si, em primeiro lugar, o mercado interno, apoderando-se mais ou menos completamente da produção do país. Mas sob o capitalismo, o mercado interno está inevitavelmente entrelaçado com o externo. Há já muito que o capitalismo criou um mercado mundial.

E à medida que foi aumentando a exportação de capitais e foram alargando, sob todas as formas, as relações com o estrangeiro e com as colônias e as ‘esferas de influência’ das maiores associações monopolistas, a marcha ‘natural’ das coisas levou a um acordo universal entre elas, à constituição de cartéis internacionais. É um novo grau da concentração mundial do capital e da produção, um grau incomparavelmente mais elevado que os anteriores. (LENIN, cap. V, pág. 31)

O avanço do ocidente sobre a Ásia, o imperialismo japonês e a colonização da península coreana

Em 1853, o comodoro Matthew Calbraith Perry dos Estados Unidos, com uma esquadra de quatro navios, chega à baía de Edo e impõe a abertura dos portos japoneses (YAMOSHIRO, pág. 138). Este fato histórico levaria a uma grande transformação do Japão e de sua sociedade. Entre outras iniciativas põe fim ao Xogunato e inaugura a Era Meiji, onde é promovida uma aceleração da modernização, com os processos de urbanização, industrialização e a efetivacriação de uma economia baseada em preceitos capitalistas, como forma de poder ter certo controle da presença ocidental em seu território.

A necessidade que todo o processo de acumulação incita em um país promove o impulsionamento do imperialismo, em especial em uma ilha como o Japão, escassa de alguns recursos naturais e mão de obra. No que tange à cultura, Koichi Iwabuchi (2002) argumenta sobre a absorção dos valores ocidentais e a preservação da cultura japonesa durante o imperialismo ocidental na Ásia. Desta forma, segundo ele, ao promover um novo modelo, a partir do processo descrito brevemente acima, os teóricos japoneses da época acreditavam que o Japão tornara-se uma civilização superior. Portanto, seu modelo deveria ser implementado pelos demais países asiáticos de cultura ainda “primitiva”.

Assim a ocupação japonesa da Coreia é iniciada com o Tratado de Ganghwa (1876), quando um grupo de representantes e autoridades militares, econômicas e do governo japonês buscou anexar a península coreana política e economicamente ao império japonês. Com o Tratado de Eulsa (1905), a Coreia passa a ser um protetorado japonês e em 1910,  através do Tratado Japão-Coreia, a anexação da península foi oficialmente firmada, ainda que o imperador coreano Gojong não tenha assinado qualquer documento.

O também conhecido como Tratado de Eulsa privou a Coréia de sua soberania e tornou o país um protetorado do Japão imperial. Resultou da vitória do Japão Imperial na Guerra Russo-Japonesa em 1905. Crédito: Wikipedia.

Durante este período, diversas medidas do governo nipônico visaram aos poucos eliminar a identidade coreana e promoveram a ideia de que o povo da península devia paulatinamente adotar os costumes, a língua e a cultura japonesa. Assim, diversas medidas que datam de 1907 a 1940 impunham censura e impedimento a publicação de jornais e livros locais, cuja propriedade fosse de um coreano. Foram implementadas escolas japonesas, no intuito de
promover a formação do “cidadão imperial”.

Segundo Mark Caprio: “o currículo público da maior parte do período foi ensinado por educadores coreanos sob um sistema híbrido focado na assimilação de coreanos ao império japonês, enfatizando a educação cultural coreana(CAPRIO, 2009, pág.129–130). Conforme ele, ainda que existissem políticas que encorajassem a igualdade entre coreanos étnicos e japoneses, isso raramente ocorria.

Apesar de ser prejudicial para a identidade nacional da Coreia, Caprio tem uma inclinação a ver como positiva algumas questões na promoção deste sistema educativo público universal que visava a assimilação cultural.Segundo ele, houve um avanço na frequência escolar primária em 38%. “Filhos de famílias de elite puderam avançar para o ensino superior, enquanto outros puderam frequentar escolas técnicas, permitindo o surgimento de uma classe pequena, mas importante, de colarinho branco e trabalhadores técnicos bem-instruídos” (CAPRIO, 2009, pág.153).

Charge do imperialismo japonês na Coreia. Crédito: https://imperialisminquiry.weebly.com/

Estes grupos, na realidade, em sua maioria pertencentes a elite, acabaram por possuir habilidades necessárias para administrar uma economia industrial moderna. “O sistema educacional japonês finalmente produziu centenas de milhares de sul-coreanos instruídos, que mais tarde tornaram-se o núcleo da elite política e econômica do pós-guerra”. (CAPRIO, 2009, pág.153). Assim, apesar de uma boa parte da elite coreana aderir e aceitar a dominação japonesa, diversos movimentos pró libertação marcaram o período do domínio imperial.

Contudo, com o auxílio inclusive de coreanos que encontraram formas de prosperar internamente na burocracia imperial, os japoneses conseguiram em grande parte reprimir tais insurreições, tendo o governo do Japão sobre a península apenas cessado com a derrota do país no fim da Segunda Guerra Mundial e a rendição dos japoneses para os Aliados.

Com a libertação, seguiu-se a divisão territorial da península durante a Guerra da Coreia, entre Norte e Sul, impulsionada em grande parte pelo contexto político do início da Guerra Fria, estando o Sul sob forte influência e ocupação dos Estados Unidos, através inclusive da instalação de bases militares em território sul-coreano. Desta forma, a jovem república da Coreia do Sul começa a criar uma identidade nacional, cujo cinema teve papel preponderante.

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O cinema sul-coreano da pós divisão nacional a contemporaneidade

Segundo Camila Regina de Oliveira (2018), houve um investimento público significativo em filmes que contassem histórias sobre sentimentos feridos pelos anos de colonização japonesa e disputas políticas. Na mesma linha, Oliveira ainda enfatiza que as narrativas sobre a ocupação japonesa, a opressão recente do exército americano no território e a luta anticomunista serviram como cenários perfeitos para afirmação da identidade nacional sul-coreana.

A partir da criação de enredos com personagens heroicos, salientando em grande parte a superação individual que serviu de símbolo para o imaginário coletivo de uma sociedade sul-coreana, é possível crer que seu novo país desenvolveu-se por seus próprios meios. Já, em tempos atuais, uma nova reformulação foi necessária:

Foi preciso reerguer o cinema nacional de um colapso industrial (devido à importação de filmes hollywoodianos). A exemplo de políticas de investimentos culturais para produção de filmes nacionais e decisões um pouco mais mandatórias: a exibição de apenas filmes nacionais por 146 dias por ano.

Assim, já não havia interesse em alertar sobre os traumas e ‘inimigos’ da liberdade coreana. Há mudança de foco político nas narrativas fílmicas. E ainda há o domínio dos aspectos coreanos em seus filmes, mas suas produções se assemelham cada vez mais com o mercado ocidental” (DE OLIVEIRA, 2018).

O colonialismo japonês e a representação da elite coreana em “My Way”, “A Era da Escuridão” e “Assassinato”

“My Way” (2011), de Je Kyu Kang conta a história de Jun Shik e Tatsuo. Dois garotos, o primeiro coreano e o segundo japonês, que sonham em virar corredores olímpicos desde criança e crescem como rivais. Porém, inicia a Segunda Guerra Mundial e eles acabam por enfrentar uma situação onde, para sobreviver, precisarão contar um com o outro. O enredo pretende basear-se na história ocorrida em junho de 1944, quando as tropas dos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, chegam às praias da Normandia, território francês, que estavam até então controladas por forças nazistas, onde um suposto soldado japonês, depois identificado como coreano, Yang Kyoung Jong, combatente do exército alemão, foi feito prisioneiro.

Ele teria servido no exército imperial do Japão (muitos coreanos foram forçados a integrar o exército japonês) e posteriormente seria capturado pelo exército soviético na Mongólia e levado ao front europeu, onde a URSS combatia os alemães. Finalmente, chegando à França, teria integrado o exército nazista, até ser capturado pelos aliados ocidentais no dia D.

A hipotética reconciliação coreano-japonesa no épico de guerra “My Way”

Apesar desta história um tanto única, que alguns historiadores já confirmam a veracidade, o filme centra-se na relação destes dois personagens que, desde criança foram destinados a serem inimigos, mas que aos poucos, devido ao contexto que se encontram, acabam modificando a visão que tem um do outro. É uma forma diferenciada que o cineasta Je Kyu Kang encontrou de pormenorizar os desafios e as tensões entre Japão e Coreia.

A questão imperialista e colonialista passa a ser vista sobre uma perspectiva pessoal e que simbolicamente reflete sobre a posição do continente asiático inserido em um sistema internacional que, em grande parte, é controlado por ocidentais. Neste cenário, mesmo que o Japão seja considerado um ator predominante e aliado das potências ocidentais na Ásia, ao sair deste contexto, ele passa a integrar, juntamente com a Coreia, o grupo de minorias, em um mundo predominantemente regido sob uma perspectiva Eurocentrista.

Sutilmente é possível compreender que para escapar de um controle ocidental (tanto Coreia do Sul, quanto Japão têm bases dos Estados Unidos em seus territórios) é necessário que as nações asiáticas possam superar o passado conflituoso de suas relações e promover uma aproximação que vise o bem comum de ambos, em especial do cidadão comum.

Em “A Era da Escuridão” (2016), de Jee Woon Kim, a história ocorre na década de 1920, durante a ocupação japonesa da Coreia e da China. Trata-se de uma homenagem aos aclamados guerreiros da Coreia que enfrentam policiais e agentes japoneses, contrabandeando explosivos pela fronteira e utilizando meios violentos para alcançar os seus objetivos. Em grande parte, o filme centra-se no personagem Lee Jung Chool, interpretado pelo veterano Song Kang Ho, um capitão da polícia coreana que tem um histórico de entregar coreanos combatentes à ocupação, em troca de uma posição favorável com os japoneses.

Contudo, ele começa a refletir sobre os próprios atos ao testemunhar a morte do ex-colega de classe, que integrou o movimento de resistência.O abalo emocional é logo percebido por outros integrantes da resistência que passam a tentar persuadí-lo a trocar de lado. Trata-se de uma abordagem que eleva o papel histórico dos movimentos de resistência e uma crítica sutil a uma elite coreana que precisa ser convencida a não colaborar com os japoneses. Há ainda um contraste bastante incisivo com a participação de estrangeiros, provenientes da China e da Europa do Leste, ambos, na época, comunistas, que acabam sendo mais leais a causa coreana anti-imperialista do que muitos integrantes do governo e da elite.

Por fim, em “Assassinato” (2015), de Choi Dong Hoon, nos anos 1930, Yeom é o capitão de um dos grupos de resistência à ocupação japonesa, que planeja assassinar o governador Kang In Guk, apoiador dos japoneses. Para isso, Yeom seleciona a atiradora de elite An Ok Yun, que junto com outros membros objetiva perseguir e eliminar os coreanos colaboradores. Dos três filmes, este é o que possui a abordagem mais crítica sobre a atuação da elite coreana e sua aliança com os japoneses, auxiliando no combate aos próprios movimentos de resistência e de luta pela independência.

Fica claro nesta produção cinematográfica que o inimigo mais temível é a elite coreana. Ela é o motivo da falta de unidade dos movimentos de libertação e da constante inviabilidade de sucesso da causa defendida. O heroísmo cabe aos grupos rebeldes, aos movimentos armados que lutam mesmo sabendo da impossibilidade de a Coreia ser liberta por suas ações e da grande possibilidadede de serem esquecidos pelas gerações posteriores. Trata-se de uma crítica ao governo, às classes dominantes coreanas e também à sociedade deste país como um todo.

A estrutura econômica e política mundial tem como base o sistema capitalista, que por sua vez além de promover relações econômicas, também é responsável por construir as relações de poder e os valores morais e sociais da sociedade global, independentemente de especificidades culturais regionais. O capitalismo visa a acumulação de capital ilimitada, o que resulta na necessidade de novas formas de exploração e acumulação, levando à expansão e formação de impérios.

As elites nacionais dos países estabelecem uma estrutura hierárquica de poder, que mesmo possuindo diferença na sua capacidade de dominação (as elites de algumas nações têm mais poder que outras), devem levar em consideração os interesses de todas. De maneira que tanto política, quanto economicamente, as estruturas dos países acabam sendo interdependentes uma das outras, o que não limita em si a necessidade de competição, mas que a transforma.

A situação da península coreana é o início deste cenário complexo para a região. O poder econômico, tecnológico, político e militar ocidental, necessitando acumular mais capital, expande-se para a Ásia. Todos os países acabam de certa forma subjugados a este poder. O Japão, ao não poder enfrentar militarmente de forma direta esta situação, acaba aderindo a esta estrutura econômica internacional, levando posteriormente a elite coreana a realizar o mesmo.

Os Cinco Traidores de Eulsa foram os cinco oficiais servindo sob o Imperador Gojong que assinaram o Tratado de Eulsa de 1905 tornando a Coréia um protetorado do Japão. Crédito: https://learningnara.tistory.com.

Assim, cria-se uma relação interdependente importante que se reflete nos dias atuais, pois, ainda que hoje seja independente, a relação da elite sul-coreana com a japonesa continua estratégica e crucial para a Coreia do Sul. No intuito de construir uma identidade nacional, o cinema sul-coreano buscou opor-se ao inimigo maior: o poder colonial japonês.

Mas com o fim do imperialismo nipônico e a manutenção da elite coreana no poder, algo que a presença militar dos EUA no país não contesta, o cinema atual da Coreia do Sul abre um novo espaço para reflexão ao questionar a própria escolha de desenvolvimento econômico pouco humana adotada pela elite e da colaboração desta com o japoneses durante a ocupação, colocando seus interesses particulares acima de qualquer nacionalismo e bem-comum. Algo que se pode contestar também atualmente.

Fonte: Texto originalmente publicado no livro do Faces da Ásia.
Link direto: https://www.academia.edu/44312376/Faces_of_Asia_Faces_da_Asia_book_

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por Anders Noren

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