
“À medida que a ordem global existente continua a desmoronar, parece que o caminho mais prudente para a Rússia seria ficar de fora o maior tempo possível – esconder-se dentro dos muros de sua ‘fortaleza neo-isolacionista’ e lidar com assuntos domésticos. Mas desta vez, a história exige que tomemos medidas“.
Karaganov, 2022
O clássico teórico militar Carl Von Clauswitz apontou a quase dois séculos atrás que a guerra nunca é um ato isolado ou irrompe de maneira inesperada. Este general prussiano é um dos expoentes do pensamento militar ocidental no auge do domínio imperial europeu sobre o mundo. Entretanto, aparentemente, este é um tipo de reflexão que se perdeu com o declínio econômico, político e cultural do ocidente a partir do século XX.
Após a destruição da União Soviética e a humilhação generalizada da Rússia durante toda a década de 1990, os Estados Unidos e o ocidente, não apenas se autoproclamaram os vencedores da Guerra Fria, mas também os porta-vozes da ’’democracia’’. Todo o mal-estar generado por ocasião da reemergência da retóricas fascistas e de uma imposição de força militar absoluta sobre o mundo- como uma espécie de Robocop global- era sistematicamente apagada ou minimizada. Embora a China e a Índia emergissem neste período como forças políticas e econômicas externas a este eixo, nada desafiava a retórica e a prática destrutiva de Washington sobre o mundo. Pedimos licença para citar o ’’Pai’’ da geopolítica estadunidense das últimas décadas:
“Em vez disso, o alcance e a penetração do poder global americano hoje são únicos. Além de controlar todos os oceanos e os mares do mundo, os Estados Unidos desenvolveram uma capacidade militar ativa no controle costeiro anfíbio que lhes permite projetar seu poder para o interior de maneiras politicamente significativas.
Suas legiões militares estão firmemente entrincheiradas nas extremidades ocidentais e orientais da Eurásia e também controlam o Golfo Pérsico. Os vassalos e afluentes da América, alguns dos quais estão ansiosos para serem ligados a Washington por laços mais formais, pontilham o continente eurasiano em toda a sua extensão…“.
BRZEZINSKI, 1997
O que mudou nos últimos 30 anos para que esta retórica triunfalista desabasse por completo nos últimos meses- isso mesmo, e Cabul é um ponto de inflexão- e causasse a presente estranha sensação de desorientação política e confusão internacional? Como pode uma estrutura desta magnitude desmoronar tão rápido diante de nós? Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que esta reação da Rússia aos Estados Unidos é tardia e acumulada. A Ucrânia não passa de uma refém dos interesses de Washington desde 2014, inclusive a própria família Biden tem uma relação obscura com esta situação que a história ainda terá muito para revelar. Desde o início desta histeria jornalística de ’’invasão russa’’, o que havia de governo ucraniano deixou de existir.
Embora a OTAN tivesse sobrevivido a Guerra Fria e expandido suas fronteiras mais ao leste, desrespeitando os acordos feitos com a União Soviética quando foi dissolvido o Pacto de Varsóvia, o ponto de inflexão desta escalada russo-estadunidense começa no ano de 1999 na Iugoslávia. A caça ao presidente Slobodan Milosevic e a completa destruição da Iugoslávia em nome do direito ’’a autodeterminação dos povos’’ e contra o ’’genocídio kosovar’’ foram um primeiro sinal de aviso do que poderia vir. A Rússia experimentou uma humilhação de caráter geopolítica muito maior do que havia ocorrido no Iraque em 1991- ainda como União Soviética. A Iugoslávia era parte integrante dos povos de etnia eslava em uma região onde a Rússia tem presença há séculos. Mesmo durante o período do Império Otomano, os turcos tinham respeito às instituições eslavas e aos povos presentes na região dos balcãs.
Se os atuais dirigentes estadunidenses ao menos fizessem um esforço em ler ou tentar ouvir o que os russos e demais povos oferecem e dizem, possivelmente a situação na Ucrânia nunca teria chegado ao ponto atual. Evigueni Primakov, visto no ocidente como herança do KGB no governo russo, alertou ainda durante a década de 2000 sobre as consequências dos eventos na Iugoslávia e no Iraque, além da necessidade de uma nova concertação internacional, visto que o sistema pós-Segunda Guerra Mundial foi demolido em 1989. Putin fez o mesmo em 2007, durante a Conferência de Segurança de Munique, e foi ignorado. O comediante que preside a Ucrânia, Volodimir Zelenski, por outro lado, na Conferência de Munique da última semana, foi aplaudido por querer reativar a capacidade nuclear ucraniana, violando o Memorando de Budapeste de 1994. Essa foi a gota d’água para o governo russo.

Esta posição dos porta-vozes da ’’democracia’’, cuja arrogância prossegue para caminhos perigosos, encontrou o seu limite após a Crise de 2008 quando os Estados Unidos adentraram em uma profunda depressão econômica, e foram ultrapassados pela China em diversas áreas na economia e na tecnologia. Desesperados, os Estados Unidos de Donald Trump iniciaram uma fracassada Guerra Comercial que apenas empurrou ainda mais Beijing para a liderança do multilateralismo. Militarmente, o fracasso em vencer as guerras no Iraque e no Afeganistão, impedia a manutenção da pressão contra outros dois gigantes asiáticos: a Rússia e o Irã. Este último também é um ator fundamental hoje! As últimas tentativas, e extremamente perigosas, de manter a hegemonia em meio ao caos, foram a Euromaidan e a ’’Primavera Árabe’’. Destes dois eventos nascem novas expressões do fascismo militante criminoso e também do terrorismo jihadista brzezinskiano.
Muito bem! De 2013 à 2020, o terrorismo foi contido, pois a derrota do Daesh na Síria e as células isoladas no Afeganistão, África e outras partes do Oriente Médio são incapazes de ganhar o mesmo espaço como nas décadas de 2000 e 2010. O principal arquiteto militar da derrota do terrorismo na região foi o general iraniano Qassem Soleimani, que não foi executado por mero acaso. Contudo, existe um esquecimento geral da resposta iraniana a essa clara agressão dos Estados Unidos contra o Estado iraniano. Em janeiro de 2020, poucas semanas depois, bases militares estadunidenses no Iraque foram imobilizadas por ataques estratégicos-que guardam semelhanças com a atual operação militar russa na Ucrânia- das forças armadas iranianas. Isso fez com que o general do Comando Central dos Estados Unidos (CENTCOM), Kenneth Mckeinze declarasse que os Estados Unidos perderam a superioridade área em uma zona militar pela primeira vez desde a Guerra da Coreia.
No caso do fascismo militante criminoso, começamos a assistir a uma resposta russa, após anos de relutância do Kremlin. Uma relutância que não se dá por uma questão ética ou moral, mas pelas consequências sísmicas que isso causaria. Desde o início dos eventos que levam a Euromaidan, a posição do governo russo sempre foi negociar o máximo possível para evitar o tensionamento das relações, o confronto com o ocidente e a sua exclusão da comunidade internacional. A tolerância ao governo criminoso em Kiev recebia pressão da própria população interna russa que jamais aceitou, assim como nenhuma das partes, os já enterrados Acordos de Minsk. Entretanto, existiam linhas vermelhas, e uma delas era o uso da Ucrânia como uma plataforma militar pela OTAN.

Os Estados Unidos, como muitos já sabiam, não se contentavam com a Ucrânia em caos, era necessário usá-la como uma plataforma de ataque e divisão da atual Rússia, que sempre foi o objetivo final de Brzezinski. Da mesma forma o fizeram com outras ex-repúblicas soviéticas (Geórgia, Azerbaijão, Uzbequistão e Cazaquistão). Em 2021, Zelenski anunciou que o objetivo de seu governo era reunificar a Ucrânia, e isso incluía reintegrar não só Donetsk e Lugansk, mas a Crimeia. Isso equivalia praticamente a uma declaração formal de guerra à Rússia. Ao mesmo tempo, o transporte de grupos terroristas desde a Síria até a Ásia Central, foi um outro indicativo de que os Estados Unidos prosseguiam a sua escalada.
Conhecendo profundamente esta situação, e ciente de que o retorno da Rússia à condição de potência obrigaria Washington a ceder poder em uma Nova Ordem Mundial, que se constrói paulatinamente desde o início da Pandemia da Covid-19, Putin fez algo inédito em 2021. Em um histórico discurso para Assembleia Federal, reunindo o Senado e a Duma de Estado, o presidente russo anunciou que não haveria mais nenhum passo a frente da OTAN, e que as linhas vermelhas seriam determinadas a partir dali pelo Kremlin. Estas linhas vermelhas relacionam-se com a ideia de segurança da Rússia apresentadas para Joe Biden na Cúpula de Genebra em junho de 2021. Trata-se do conceito de Estabilidade Estratégica.
E o que implica Estabilidade Estratégica? O fim das revoluções coloridas, não existência de bases militares da OTAN dentro do espaço das ex-repúblicas soviéticas, retorno dos Estados Unidos para todos os acordos de limitação de armas, a assinatura de novos tratados e entre outras coisas. Pois bem, entre junho de 2021 até o presente momento, não houve resposta dos Estados Unidos acerca destas propostas. Inclusive, as declarações dos líderes militares e políticos ocidentais era de que é inadmissível que haja demarcação de ’’zonas de influência no século XXI’’.


O mais grave disso não é apenas a escalada militar, mas a incapacidade estadunidense de enxergar que a Rússia de hoje não é aquele país caótico da década de 1990, bem como o mundo transformou-se por completo. Moscou possui um peso político e militar que não pode mais ser ignorado ou mesmo diminuído a semelhança da China, Índia, Irã e outros países. Daí que os russos falem da ideia de Indivisibilidade da Segurança, retomando a antiga ideia de Segurança Coletiva. Entretanto, a incapacidade dos EUA de visualizar isso- ou até mesmo, pura ignorância- alimentava com gasolina uma situação inflamável, e que por fim explodiu. No mesmo discurso da Assembleia da Federal, Putin avisou em tons quase apocalípticos que, em caso de qualquer tipo de violação das linhas vermelhas, a resposta russa seria rápida, dura e assimétrica.
Logo no início de 2022, quando a escalada da retórica em relação a Ucrânia crescia, e o governo Biden dobrava a aposta de que a Rússia entraria em uma nova armadilha no estilo Afeganistão dos mujhadeens, apareceu o Cazaquistão- que hoje ninguém mais lembra. Nesta ocasião, a insurreição militar e terrorista jihadista foi respondida em menos de 24 horas, de forma rápida, dura e assimétrica. A intervenção da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) garantiu não apenas que as instalações públicas e militares do país fossem preservadas, mas garantiu também que as lideranças das forças golpistas e insurrecionais fossem neutralizadas.
O fracasso no Cazaquistão foi seguido da histórica declaração conjunta entre China e Rússia em fevereiro, durante a abertura dos Jogos Olímpicos de Beijing. Neste documento, Moscou e Beijing não apenas reafirmam sua aliança estratégica, mas apontam na direção da construção de um novo tipo de relações internacionais, acompanhada do desenvolvimento de novos mecanismos institucionais- como por exemplo, um sistema de pagamentos alternativo ao Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (SWIFT) para os marginalizados das relações internacionais como Irã, Cuba e Venezuela.
Remover bancos russos do SWIFT pode ser uma faca de dois gumes para a Europa
Embora os Estados Unidos soubessem da importância deste movimento, mantém de forma teimosa a ideia de supremacia das relações internacionais do pós-Guerra Fria e não escuta os ecos da Nova Ordem Mundial. O cúmulo disso foi a Cúpula pela Democracia realizada em dezembro de 2021, quando em uma retórica abertamente mcarthysta, o governo Biden passou a querer determinar quem é ou não parte da comunidade democrática. Esta histeria, porém chegou no seu limite.
Após perceberem que os russos passariam a dobrar a aposta, e que já não se importavam mais com o que os europeus ou os estadunidenses pensariam, o desespero de Washington foi completo. Aquilo que deveria ser uma campanha de marketing para aumentar a popularidade Biden e afastar os europeus da Rússia tornou-se uma armadilha. Afinal, se os russos atacassem a Ucrânia e os Estados Unidos os expulsassem dos órgãos internacionais, que diferença concreta faria para uma Rússia que hoje já se encontra praticamente nesta condição? Os principais parceiros econômicos de Moscou estão localizados na Ásia. O Paquistão, a Índia, a China, o Irã e outros países asiáticos tornaram-se mais importantes do que a Europa.
Mais importante ainda, poderia a OTAN defender a Ucrânia- que nem membro da aliança atlântica é- e desafiar uma potência nuclear como a Rússia de forma direta? Os europeus não apoiariam isso. Portanto, no fim, embora os Estados Unidos e a OTAN não reconheçam a Nova Ordem Mundial em formação, estão a este processo submetidos. O som estrondoso, rápido, duro e assimétrico está sendo ouvido apenas no presente momento após meses, senão anos de miopia política. O choque paralisante das palavras de Putin nos dias 22 e 24 de fevereiro, provocaram um impressionante tremor nas placas tectônicas da ordem internacional que apenas se tornará mais visível nos próximos meses.
A Cúpula da Cruzada pela Democracia: competição estratégica com a China e doutrina contra-insurgente
Mais do que uma reação, os movimentos no Cazaquistão e agora na Ucrânia são um aviso do governo russo de que nas áreas de segurança e estabilidade estratégica da Rússia não vai haver mais tolerância para provocações. A Rússia é uma das potências mundiais e deve ser respeitada como tal, caso o contrário vai ter consequências. Isso é dito abertamente pelo Kremlin há pelo menos um ano. Diante disso, é importante concluir que o mundo vive um interregnum que não começou nas últimas semanas. A resposta iraniana a execução do general Qassem Soleimani em 2020, a expulsão dos Estados Unidos do Afeganistão, e a presente operação de desmilitarização e desnazificação da Ucrânia estão todas interligadas e interconectadas a desintegração concreta da capacidade de Washington de determinar os ditames políticos pelo mundo. Isso apresenta uma série de questões para a comunidade internacional que são possíveis de resumir em quatro ponderações.
1) Diferente dos EUA, esta é a primeira vez que a Rússia rompe de forma unilateral, ainda que por razões de segurança justificadas, uma resolução da ONU– A Resolução 2022 sobre os Acordos de Minsk- ao reconhecer as independências de Donetsk e Lugansk, fornecendo a partir de agora, capacidades militares e inclusive tropas para a defesa dessas regiões. Também é a primeira vez que a Rússia desafia na prática e publicamente a OTAN. Esta ruptura cria um novo precedente histórico grave para a ONU, e desmoraliza ainda mais as instituições internacionais atuais, tornando urgente a reorganização da distribuição de poder entre os países e continentes.
2) Excluir a Rússia da ’’comunidade ocidental’’- descrita como comunidade internacional- não vai funcionar como medida política. As relações entre a Rússia e países como China e Índia, e outros do Sul Global não será alterada. Isso apenas potencializará ainda mais a desdolarização da economia russa, gerando um efeito reverso na economia e mesmo na política. Nenhuma das sanções aplicadas desde 2013 conseguiram surtir efeito por muito tempo, mesmo que a retirada do país do SWIFT seja um duro golpe, o lançamento do sistema de pagamentos sino-russo dentro dos próximos anos, senão meses, manobrará este isolamento imposto. Isso apenas servirá para cindir ainda mais o presente sistema internacional, isolando a Europa e os Estados Unidos da nova Ásia.

3) O enfraquecimento político dos EUA oferece ainda a possibilidade da desocupação de Taiwan, Coreia e Iraque, algo que pode vir a resultar na resolução das questões políticas destas áreas, ainda que por vias diferenciadas. Ser aliado dos Estados Unidos não é mais garantia de assistência de qualquer espécie, o que implica em dizer que a saída estadunidense destes locais, até mesmo sua expulsão, torna-se uma possibilidade muito concreta. A própria presença militar atual na Europa será abalada.
4) O enfraquecimento político dos EUA oferece de imediato uma ameaça à segurança global no que diz respeito a crescente possibilidade de uma saída pela força para manter a sua hegemonia internacional. Isso inclui uma opção autodestrutiva capacitada pelas armas nucleares que permanecem estocadas e prontas para uso se necessário. Os EUA foram o único país a usar bombas atômicas na história e permanece usando as mesmas como uma forma de dissuasão e inclusão no círculo de potências aliadas ou inimigas.
Uma quinta ponderação que poderia ser inserida é o possível golpe mortal destes eventos sobre o governo Joe Biden e o Partido Democrata que já passam por muitos problemas econômicos e políticos domésticos. Porém, esta questão é um problema bem mais interno dos Estados Unidos, e que é dificil de calcular a escala dos resultados, visto que Washington isola-se cada vez mais na comunidade internacional, e as eleições presidenciais ocorrerão apenas daqui a 2 anos.
Por fim, o nascimento de uma Nova Ordem Mundial não é um processo pacífico e muito menos simples. Grandes riscos estão associados ao presente período de transição, inclusive oportunidades históricas para os vários países do Sul Global. Entretanto, conflitos militares na Europa tem graves repercussões pelo mundo desde o processo de colonização das Américas, em especial no que diz respeito à interpretação do direito a autodeterminação dos povos que vem sendo manipulada pelos Estados Unidos. Esta manipulação, oriunda da arquitetura unipolar da ordem vigente pós-Guerra Fria e que foi alimentada no presente problema ucraniano, expõe hoje, de forma assombrosa, como a ordem mundial que conhecemos nas últimas três décadas está em plena e rápida dissolução.
Referências
BRZEZINSKI, Zbigniew. El gran tablero mundial- La supremacía estadounidense y sus imperativos. Edição digital por Chungalitos, s/l, 1997.
ESCOBAR, Pepe. After Kazakhstan, the color revolution era is over. In: The Cradle. 2022. Disponível em: https://thecradle.co/Article/undefined/5668.
______. So Who Wants a Hot War?. In: Strategic Cultre. 2022. Disponível em: https://www.strategic-culture.org/news/2021/04/16/so-who-wants-a-hot-war/.
KARAGANOV, Sergey. Sergey Karaganov: Russia’s new foreign policy, the Putin Doctrine. In: RT. 2022. Disponível em: https://www.rt.com/russia/550271-putin-doctrine-foreign-policy/.
Vídeos
BRASIL 247. Pepe Escobar explica a guerra na Ucrânia. 2022
COTIDIANO NEWS. 🛑 EURÁSIA URGENTE- Ucrânia reinicia Guerra no Donbass?. 2022
GRUPO DE ESTUDOS 9 DE MAIO. Guerra na Ucrânia: história, geopolítica e tática por trás do conflito. 2022
TV GGN. ENTENDA OS ATAQUES DA RÚSSIA À UCRÂNIA | Com Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores. 2022
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